terça-feira, 26 de abril de 2016

questões sobre territorialidade e reforma pombalina

Começando a leitura da última edição da Revista Brasileira de História, n 70. O primeiro artigo intitulado territorialidade, casamentos mistos e política entre índios e portugueses, escrito por Vânia Moreira, trata de pensar a categoria índio, português e possibilidades de mestissagem no Brasil após as reformas pombalinas, tendo como foco as estratégias matrimoniais dos índios para assegurar o predomínio no território. É perceptível que as intervenções oficiais sofreram releituras pela força da tradição e por novas leituras realizadas pelos diferentes grupos em interação como sintetiza em sua conclusão: 

 As reformas pombalinas tentaram impor um novo modo de enfrentar a mestiçagem de índios com não índios, ao garantir que nenhuma infâmia re- cairia sobre os contraentes portugueses e seus descendentes. O objetivo era homogeneizar, do ponto de vista étnico, cultural e das lealdades políticas, a população colonial, especialmente os descendentes dos casamentos mistos. Mas a documentação coligida aponta para o relativo fracasso dessa tentativa, pois novas clivagens de “cor” e de mistura de “sangue” surgiam na prática e no discurso social. Afinal, no campo discursivo do ouvidor, Leandro era um “par- do”, mestiço de pai pardo e mãe índia. Segundo as regras e valores classifica- tórios do ouvidor, apenas deveriam ser considerados “índios” homens e mulheres nascidos de pais e mães indígenas. Assim, Leandro deixou suposta- mente de ser índio; não foi equiparado aos “portugueses” no discurso do ou- vidor, como prometia o espírito das leis pombalinas; e, na nova qualidade de “pardo”, ingressava numa escala de hierarquização social muito mais instável e nebulosa que a dos portugueses e a de seus parentes considerados índios, cujos direitos e obrigações estavam mais claramente assentados no corpo nor- mativo lusitano.
 
Texto: http://www.scielo.br/pdf/rbh/v35n70/1806-9347-rbh-2015v35n70006.pdf


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