quarta-feira, 11 de junho de 2014

Caminhos da narrativa ou o caos ordenado




Atravessar o espelho ou entrar no país das maravilhas através dos textos de Lewis Carroll nos leva ao fantástico mundo de fantasia imaginado/vivido por Alice, uma garota de sete anos (e seis meses) impetuosa, esperta  e cativante.  Ao longo de suas aventuras Alice se defronta com os mais estranhos, conturbados e incomuns personagens, seres antropomórficos como cartas de baralho, peças de xadrez, coelhos entre tantos outros que ganham características e feições humanas e vivem nesse mundo incomum, mundo inclusive regido por leis diferentes, onde se corre para conseguir ficar parado, em que a memória não funciona apenas para os eventos passados, mas atua nos dois caminhos, o do que foi e o do que virá a ser, percebe-se então que dois dos principais eixos da realidade, o espaço e o tempo, se não se dissolvem ao menos se desalinham perante a lógica da razão humana.
A cada encontro com novos personagens Alice traduz o estranhamento gerado dentro de uma lógica toda infantil, como no momento em que questiona como todas as plantas do jardim conseguem falar, ao que seus interlocutores apresentam como razão a terra bem dura que estão plantadas, diferentes da areia fofa que deixa as outras plantas constantemente dormindo; aos poucos a lógica daquele mundo passa de alguma forma a fazer sentido para a menina, ou ao menos a deixa satisfeita, dentro das explicações apresentadas pelos seus moradores, mesmo com discursos circulares.
Analisando os caminhos da narrativa, que é o tema proposto, chama atenção em Lewis Carroll a exibição do nonsense, onde um mundo confuso é apresentado, mas aos olhos de seus moradores vive-se em perfeita ordem, há regras naquela sociedade, mesmo que não sejam as nossas; não se difere na relação de sentido à confusa contemporaneidade onde a perda de sentido da história, a própria crise das teorias, nos leva ao desencanto da modernidade. Como no mundo das maravilhas, vivemos em um caos “ordenado”, um caos aparente estruturado dentro de uma lógica ainda não completamente assimilada, diferente do triunfo da razão idealizado pelo progresso moderno.Tanto o mundo fantástico e confuso que Alice encontrou dentro do espelho quanto o fora dele, permanece tão fantástico quanto confuso.
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  • CARROLL, Lewis. A aventura da Alice no país das maravilhas/ Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá. Rio de janeiro: Zahar, 2009.

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