sexta-feira, 13 de junho de 2014

Kill All Enemies

Li fazem poucos meses e preciso recomendar a leitura, é fantástico. Recomendo principalmente para os educadores como forma de reflexão sobre insistir com os alunos. A resenha que segue não foi escrita por mim, pertence a Fábio Dutra e está publicada em sua página no Skoob. Gostei tanto que resolvi publica-la.


I will just say goodbye.
"Não é incrível como uma coisa simples pode mudar a nossa vida? Um milagre é isso. Não luzes piscando, corais de anjos e pessoas ressuscitando. Pode acontecer a qualquer hora e ninguém saber, a não ser a pessoa que estava vivendo aquilo. Comigo foi assim."

Adolescência no meio britânico, repleto de bullying e retaliação de todo e qualquer gesto de liberdade de mente ou de espírito. A primeira impressão que eu tive foi a de estar observando a vida de pessoas que entram em problemas por livre e espontânea vontade. Bom, ai que Burgess se coloca e mostra o que há por trás de cada 'baderneiro'.

Billie, Rob e Chris estudam na mesma escola, mas sempre estão na iminência de suspensões, detenções e transferências pra 'WASP' ou para o reformatório de fato: temido e odiado. Mas isso não é de graça, cada um prioriza o estado caótico de suas situações dentro de casa, não sobrando tempo para priorizar o que na idade deles deveria ser um foco maior - a escola. Digo, no caso de Billie, se você tem que cuidar da sua mãe enterrada no alcoolismo, com uma irmã mais nova prestes a se tornar a segunda empregada da casa sem poder protestar - ao mesmo tempo em que sua fama de briguenta na escola te obriga a manter uma reputação para tal, aí que a barra sempre pesa, e quase ninguém quer te ajudar a levantar e mesmo qualquer ajuda é suspeita. Ao lado de Billie, temos Rob, maltratado pelo padrasto que por consequência maltrata sua mãe, com um irmãozinho meio pentelho, mas que depende e se espelha de certa forma nele, adicione-se aí o bullying hardcore na escola, temos o resultado da equação: não há auto-estima que te faça resistir sozinho. E pra fechar tem o Chris, que tem seus princípios tão atrelados, tão honestos se colocado na perspectiva dele, e um coração de diamante, porém tem um pai com níveis bombásticos de stress e agressividade reprimida.

"Arranquei a blusa e fiquei lá parado com a minha camiseta do Metallica, orgulhosamente filho da puta, viadinho, drogado e satanista. Estava toda rasgada e imunda, e eu estava todo suado e vermelho, com lágrimas nos olhos - na verdade chorando como um bebezinho."

Desde que soube da existência desse livro, a estória passada num Reino Unido suburbano e afins, sabia que não era apenas um YA qualquer, e já antes de ler o tracei no mesmo paralelo de 'As Vantagens de Ser Invisível", são caminhos e países diferentes, mas o ponto central está lá - outsides, renegados, excluídos e sem grandes esperanças - literatura trazendo pra sociedade quadrada e perfeita, os podres sempre jogados pra debaixo do tapete, ou largados na pá lá no quintal. Poucas coisas são capazes de fazer com que essas pessoas voltem a crer que são dignas: música, uma boa amizade, livros, é aquele pontinho de fé de quem viu o mesmo que você e botou pra fora, que acaba te encorajando á uma libertação de mente e otimismo.

"Dá pra imaginar? Você ser transformado na coisa que mais odeia no mundo? É isso o que os monstros fazem com a gente. A pessoa não é devorada por ele - ela se transforma num deles."

Há no livro essa batalha também do não se tornar o exemplar do século XXI do que seus pais e afins se transformaram há duas décadas. Toda e qualquer pessoa passa - consciente ou inconscientemente - por anos de batalha definindo seu lugar no mundo e se separando das influências máximas dos pais, aliás se tornar algo parecido com eles, na maioria das vezes, não é e nunca será opção. Viver sobre um opressor e passar a ser um é a declarada falência, jogar no lixo a própria alma por enveredar pela estrada mais curta e confortável. Há que se trabalhar nisso.

"Na verdade nem eu, só sabia que estava fazendo aquilo pelo Rob, pelo Frankie, pela Billie e por mim também, e por todo mundo que é obrigado a passar anos e anos fazendo coisas que detesta, e isso tudo só porque ninguém tem o bom senso de deixar as pessoas fazerem o que acharem melhor pra elas mesmas."

Partindo pra reclamaçõezinhas: o final ficou em aberto demais pra mim, não considero uma falha, se for será minha por querer detalhes demais. De qualquer forma, é mais um livro pra sentir, pra empatizar e propagar de coração aberto e de forma simples, porém não menos valiosa, assim como foi escrito.

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